É sempre salutar para um cineasta autoral trabalhar com um material que não é seu originalmente. O roteirista e diretor baiano radicado em Curitiba, Aly Muritiba, após dirigir obras bastante pessoais como Para Minha Amada Morta, Ferrugem e Deserto Particular, nos brinda com este Jesus Kid, adaptado por ele e Laura Malin da obra homônima de Lourenço Mutarelli. A inspiração, do livro e do filme, é o clássico Barton Fink: Delírios de Hollywood, que os irmãos Joel e Ethan Coen escreveram e dirigiram, em 1991. Aqui, somos apresentados a Eugênio (Paulo Miklos), autor de livro de faroeste que têm na figura de Jesus Kid (Sérgio Marone) a personagem principal. As vendas estão indo mal e nesse momento delicado ele é contratado para escrever o roteiro de um filme. Um trabalho de encomenda que poderá resolver seus problemas financeiros. Isolado em um hotel, Eugênio vê e interage com sua criação maior em busca de uma saída para aquele caos. Muritiba adota em Jesus Kid um clima de farsa caricatural. O exagero cai como uma luva na retratação das personagens. Mas atrás dessa aparente comédia de excessos encontramos camadas de crítica social e política, da mesma forma que temos uma boa representação de como alguns produtores e pessoas que se dizem “artistas” enxergam a arte. A metalinguagem utilizada pelo cineasta é mais que adequada nessa história que não permite meios-termos. Em tempo: Jesus Kid ganhou três Kikitos no Festival de Cinema de Gramado de 2021 (melhor direção, melhor roteiro e melhor ator coadjuvante para Leandro Daniel Colombo, que interpreta o recepcionista do hotel).

JESUS KID (Brasil 2021). Direção: Aly Muritiba. Elenco: Paulo Miklos, Sérgio Marone, Maureen Miranda, Leandro Daniel Colombo, Otávio Linhares, Fábio Silvestre e Luthero de Almeida. Duração: 88 minutos. Distribuição: Olhar Distribuição.