O que poderíamos esperar de um documentário dirigido pelo cineasta sérvio Emir Kusturica sobre José Alberto Mujica Cordano, ex-presidente uruguaio, mais conhecido como Pepe Mujica? Em primeiro lugar, uma boa conversa. E é isso o que vemos em El Pepe: Uma Vida Suprema. A cena inicial já deixa isso evidente. A trajetória pessoal de Mujica é das mais ricas para qualquer líder mundial. Ele, que presidiu o Uruguai de março de 2010 até março de 2015, foi guerrilheiro e preso político e pode, sem dúvida alguma, ser considerado o mais humilde entre todos os chefes de Estado do passado, do presente e até mesmo do futuro. Pepe doava 70% de seu salário como presidente para a caridade. E não fazia isso de maneira hipócrita. Basta assistir a esse documentário para perceber sua singular e humana visão de mundo. E Kusturica conduz sua câmera de forma íntima, mas jamais intrusiva. Em precisos e preciosos 74 minutos nos sentimos próximos de um Ser Humano (faço questão das maiúsculas) que construiu e compartilhou uma vida carregada de amor, sem nunca esquecer da importância de se manter empático com a situação de quem o rodeava. Uma figura pública que nunca se afastou de seu povo e soube militar a boa política e respeitar a natureza e suas regras de sustentabilidade. El Pepe teve e tem essa postura diante da vida, das pessoas, do Uruguai e do planeta inteiro. Sempre coerente, respeitoso e amável. Em tempo: esse belo e sensível retrato de Mujica feito por Kusturica termina em um bar ao som de um tango uruguaio. E não poderia terminar de outra forma.

EL PEPE: UMA VIDA SUPREMA (El Pepe: Una Vida Suprema – Argentina/Uruguai/Sérvia 2018). Direção: Emir Kusturica. Documentário. Duração: 74 minutos. Distribuição: Netflix.