O cineasta baiano Geraldo Sarno trabalha com audiovisual desde 1963 e ao longo desses quase 60 anos de carreira construiu uma sólida filmografia cheia de características únicas na cinematografia brasileira. Em 2020, o lançamento de Sertânia, que ele escreveu, dirigiu e montou, revelou-se uma de suas obras mais originais e impactantes. A ação gira em torno de Antão (Vertin Moura), que faz parte do bando de jagunços de Jesuíno (Júlio Adrião) e é baleado quando invadem a cidade que dá título ao filme. Ferido e em delírio febril, ele rasteja pelo sertão nordestino relembrando passagens de sua vida. Sarno é um diretor que sempre teve um olhar apurado para as questões envolvendo seus conterrâneos de região. Seu rigor visual se faz perceber no preciso e econômico desenho de produção de Ana Dominoni e na bela fotografia em preto e branco de Miguel Vassy. Mas a força de Sertânia está presente mesmo em sua singular narrativa. Sarno usa como fio condutor a mente delirante de Antão e trabalha elementos os mais diversos para abordar pontos bastantes atuais como ética, corrupção, políticas governamentais e posturas sociais, sem esquecer do tema recorrente na maioria de seus trabalhos: os movimentos migratórios. E ele insere aqui algo aparentemente incompatível, quase surreal, quando, em dois momentos, Antão ver o próprio filme sendo gravado. Há também um número musical e algumas outras cenas que intensificam o caráter experimental e cheio de originalidade de Sertânia, uma obra única no cenário cinematográfico nacional dos últimos anos.

SERTÂNIA (Brasil 2020). Direção: Geraldo Sarno. Elenco: Vertin Moura, Júlio Adrião, Kecia Prado, Lourinelson Vladmir, Igor de Carvalho, Sara Galvão e Edgard Navarro. Duração: 97 minutos. Distribuição: Bretz Filmes.