Terceiro filme holandês a ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro, Caráter, longa-metragem de estreia de Mike van Diem, é uma pequena obra-prima. O roteiro, escrito pelo próprio diretor, junto com Laurens Geels e Ruud van Megen, tem por base um conto e um romance de autoria de Ferdinand Bordewijk. A ação se passa em Roterdã, nos anos 1920. Acompanhamos o jovem Jacob Katadreuffe (Fedja van Huet), filho bastardo de Dreverhaven (Jan Decleir), um influente oficial de justiça. A relação dos dois nunca foi boa. Jacob foi criado pela mãe (Betty Schuurman) e sempre sofreu forte rejeição do pai. Quando adulto, torna-se advogado e termina envolvido como suspeito de um crime. Na delegacia, onde a maior parte da história acontece, em depoimento à polícia, ficamos sabendo da dura infância de Jacob, além de outras questões importantes. Caráter é uma obra madura, direta e sem apelos emocionais. Isso gera imagens frias, às vezes claustrofóbicas, bem kafkanianas, reforçadas pelo excelente trabalho do fotógrafo Rogier Stoffers.  Afinal, a emoção não faz parte da vida de suas personagens. Isso tudo aliado à segurança da direção, o ótimo roteiro e seu elenco excepcional fazem deste filme uma verdadeira jóia.

CARÁTER (Karacter – Holanda/Bélgica 1997). Direção: Mike van Diem. Elenco: Jan Decleir, Fedja van Huet, Betty Schuurman, Victor Löw, Tamar van den Dop, Hans Kesting, Lou Landré, Bernard Droog e Frans Vorstman. Duração: 122 minutos. Distribuição: Paris Filmes.