O cineasta François Truffaut, diferente de Jean-Luc Godard, nunca foi muito afeito a experimentos narrativos. Os dois são os maiores nomes da Nouvelle Vague francesa e trabalharam juntos em alguns projetos no início da carreira. Depois terminaram se afastando por uma série de razões. Truffaut sempre foi um apaixonado pelas mulheres, pelo cinema, pela vida. E paixão está no centro de A Sereia do Mississipi, seu oitavo longa, que ele dirigiu em 1969. O roteiro do próprio diretor é uma adaptação do romance homônimo de Cornell Woolrich, sob o pseudônimo de William Irish. A ação gira em torno do empresário Louis Mahé (Jean-Paul Belmondo), dono de uma fábrica de cigarros na Ilha de Reunião, próxima a Madagascar, na África. Ele troca cartas com Julie Roussel (Catherine Deneuve), que conheceu em um correio romântico de jornal. Depois de algum tempo, Julie vai até a ilha para se casar com Louis. Aquele romance de folhetim revela então reviravoltas que alteram por completo a vida do casal. A inspiração hitchcockiana é explícita. No entanto, existe uma diferença fundamental. Se o diretor fosse Hitchcock, a história seguiria uma linha racional. Com Truffaut atrás da câmera, o foco está na paixão de Louis por Julie. E a paixão costuma ser, na maioria das vezes, irracional. Em tempo: Cornell Woolrich é autor do conto que deu origem ao roteiro de Janela Indiscreta, de Hitchcock, bem como do romance que serviu de base para A Noiva Estava de Preto, filme anterior de Truffaut.

A SEREIA DO MISSISSIPI (La Sirène du Mississipi – França 1969). Direção: François Truffaut. Elenco: Jean-Paul Belmondo, Catherine Deneuve, Michel Bouquet, Nelly Borgeaud e Marcel Berbert. Duração: 123 minutos. Distribuição: Versátil.