Um olhar estrangeiro, na maioria das vezes, costuma revelar aspectos de um país que um nativo não consegue. Nomadland, dirigido pela chinesa radicada nos Estados Unidos Chloé Zhao, mostra uma América pouca conhecida na tela grande. E este trabalho, em particular, é autoral até a medula, uma vez que Zhao escreveu o roteiro (a partir do livro homônimo de Jessica Bruder), produziu (junto com a atriz Frances McDormand), dirigiu e montou essa tocante obra, vencedora do Oscar 2021 em três importantes categorias: atriz, direção e filme. A história começa a partir do colapso econômico da cidade de Empire, na zona rural do Estado americano de Nevada. Era lá que vivia Fern (McDormand), que agora mora na estrada, em uma van, viajando pelo país e se sustentando em empregos temporários. Com exceção dela e do ator David Strathairn, que interpreta o Dave, todo o elenco é composto por nômades reais. E é justamente nessa interação entre os dois atores profissionais e os demais em cena que nunca haviam atuado antes que reside muito da força do filme e da qualidade e sensibilidade de Zhao como diretora. Outros pontos merecem destaque. A fotografia, por exemplo, é extremamente naturalista, orgânica e sempre na temperatura certa. A montagem harmoniza tudo e apesar de não se prender com rigor às passagens de tempo, flui com o ritmo necessário que a história pede. Quem é lembrado, vive. E nada de dizer “adeus”. Apenas um “te vejo na estrada”. Em tempo: Chloé Zhao foi a segunda mulher a vencer o Oscar de direção em 93 anos do prêmio e a primeira asiática a ganhar nessa categoria.

NOMADLAND (EUA 2020). Direção: Chloé Zhao. Elenco: Frances McDormand, David Strathairn, Linda May, Bob Wells e Charlene Swankie. Duração: 107 minutos. Distribuição: Walt Disney Studios.