Certa feita me perguntaram quem seria o herdeiro cinematográfico de Stanley Kubrick. Respondi que acreditava ser o David Fincher. E agora, ao escrever essa resenha, me dei conta de uma curiosa coincidência: ambos não consideram como estreia o primeiro longa que dirigiram. Alien³, no caso de Fincher, e este Medo e Desejo, no caso de Kubrick. Antes de dirigir longas, Kubrick trabalhou como fotógrafo da revista Look e realizou dois curtas antes de filmar o roteiro de Howard Sackler nessa produção bancada por seu próprio pai e um tio. Além da direção e de coordenar a produção, ele fez também a fotografia, a captação de som e a montagem. Acompanhamos aqui um grupo de soldados que sofre um acidente de avião em território inimigo e precisa chegar com segurança à sua base. Claro que não temos em Medo e Desejo o Stanley Kubrick que tanto admiramos. Mas é possível perceber nessa obra inaugural o potencial que se consolidaria já a partir dos trabalhos seguintes. Em tempo: Kubrick achou o filme tão amador que o tirou de circulação e destruiu as cópias existentes. Felizmente, a película fora revelada na Kodak, que tinha por política guardar uma cópia de cada filme processado nos laboratórios da empresa.

MEDO E DESEJO (Fear and Desire – EUA 1953). Direção: Stanley Kubrick. Elenco: Frank Silvera, Kenneth Harp, Paul Mazursky, Stephen Coit, Virginia Leith e David Allen. Duração: 62 minutos. Distribuição: Versátil.