Quem conhece a obra de Martin Scorsese sabe que ele gosta de retratar mafiosos, assassinos e perdedores. A princípio, A Época da Inocência parece destoar de sua filmografia. Mero engano. Apesar de ser um filme de época, no caso, a Nova Iorque da segunda metade do século retrasado, o diretor continua fiel ao seu estilo seco e direto em mostrar a hipocrisia da sociedade dominante. A beleza e o luxo retratados servem para encobrir a podridão de pessoas que se acham melhores que as demais, que se consideram “europeias”. A história é centrada em um triângulo amoroso. Newland Archer (Daniel Day-Lewis) está noivo de May (Winona Ryder) e se apaixona pela prima desta, Olenska (Michele Pffeifer). A Época da Inocência é inspirado no romance de Edith Wharton, aristocrata nova-iorquina que conheceu bem a sociedade retratada na trama e inova por mostrar o ponto de vista do homem apaixonado. A influência maior é o cineasta Lucchino Visconti e sua obra-prima, O Leopardo. Referência esta que Scorsese faz questão de confirmar. Antes de ser um excelente exercício para almas apaixonadas, A Época da Inocência é um espetáculo para os olhos. Tudo funciona perfeitamente, das cores aos cenários, do vestuário às porcelanas chinesas, dos pratos servidos à música de fundo. Scorsese chegou perto da perfeição. Ele disse certa vez que sua mãe nunca gostou muito de seus filmes violentos e sempre sonhou vê-lo dirigindo algo como E O Vento Levou. Pelos padrões scorsesianos, A Época da Inocência é o mais próximo que ele poderia chegar para satisfazer sua mãe. O filme é dedicado a Luciano Scorsese, pai do diretor, que faleceu logo após as filmagens.
A ÉPOCA DA INOCÊNCIA (The Age of Innocence – EUA 1993). Direção: Martin Scorsese. Elenco: Daniel Day-Lewis, Michelle Pfeiffer, Winona Ryder, Miriam Margolyes e Richard E. Grant. Duração: 138 minutos. Distribuição: Netflix.
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