AQUARIUS

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O envolvimento do pernambucano Kleber Mendonça Filho com a sétima arte é antigo. Primeiro como crítico cinematográfico. Depois, como programador da sala de cinema da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife. E, paralelo a isso, como realizador de curtas, todos premiados. A estreia em longas acontece em 2008 com o documentário Crítico. Quatro anos mais tarde, o primeiro longa de ficção, O Som ao Redor, projeta seu nome em todo o mundo. A partir daí, uma grande expectativa se criou em torno de sua próxima obra. Lançada em 2016, Aquarius fez jus à expectativa que causou. O roteiro, escrito pelo próprio diretor, nos apresenta Clara (Sonia Braga), uma mulher de 65 anos, jornalista aposentada, que vive em um apartamento no edifício que dá título ao filme, localizado no bairro de Boa Viagem, na capital pernambucana. Sua rotina muda a partir do momento em que ela é procurada por uma construtora que quer comprar seu imóvel, o único ainda habitado no prédio. Clara não tem interesse algum em abandonar o Aquarius. Há uma forte ligação sentimental entre ela e aquele lugar. Memórias que ela preserva porque fazem parte de sua história. Quando de sua primeira exibição no Festival de Cannes de 2016, Mendonça Filho e parte do elenco se manifestou contra o então latente governo Temer. A polêmica foi grande e no final terminou prejudicando as chances do filme para ser selecionado e representar o Brasil na premiação do Oscar. Questões políticas à parte, Aquarius é pungente e vai no sentido contrário do que vemos na maioria dos filmes brasileiros atuais. Outro ponto marcante da filmografia do diretor é o cuidado com o som e com a trilha sonora. Em Aquarius, ela é quase uma personagem e o resgate da melancólica Hoje, sucesso de 1968 composta por Taiguara, resume em seus versos muito de Clara: “Hoje. Trago em meu corpo as marcas do meu tempo. Meu desespero, a vida num momento. A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo”. Ela é uma mulher decidida, politizada e dotada de uma força interior inabalável. Trata-se de uma obra de forte postura política-ideológica, porém, nunca partidária. Sonia Braga interpreta aqui o papel de sua vida. Sua Clara é uma mulher fascinantemente moderna e consciente de tudo que a rodeia. E sua resistência se transforma em nossa resistência também. Com ou sem cupim.

AQUARIUS (Brasil 2016). Direção: Kleber Mendonça Filho. Elenco: Sonia Braga, Maeve Jenkings, Irandhir Santos, Humberto Carrão, Zoraide Coleto, Fernando Teixeira, Buda Lira, Carla Ribas e Thaia Perez. Duração: 145 minutos. Distribuição: Netflix.

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Last modified: 19 de fevereiro de 2020

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