Parece ser um caminho seguro fazer referência à obra de um cineasta famoso em um filme. No entanto, nem sempre isso é feito de maneira original. Na maioria das vezes, a citação ou homenagem se revela frágil e sem consistência. Não é o que acontece em A Grande Beleza, do italiano Paolo Sorrentino, vencedor do Oscar 2014 de melhor filme estrangeiro. Escrito pelo próprio diretor, junto com Umberto Contarello, o filme dialoga diretamente com a obra de Federico Fellini. Mais precisamente com A Doce Vida. Porém, a exemplo do que Brian De Palma fazia com Hitchcock, há aqui uma genial subversão daquilo que se está homenageando. A história se passa em Roma, no auge do verão. A cidade está cheia de turistas encantados com sua beleza. E o escritor Jep Gambardella (Toni Servillo) comemora mais um aniversário. Quando jovem, ele escreveu um romance que o tornou famoso. Hoje, Jep vive ainda na sombra daquele sucesso e reavalia seu passado e suas escolhas. Sorrentino, como já havia deixado claro em seus dois trabalhos anteriores, Il Divo, de 2008 e Aqui É o Meu Lugar, de 2011, tem algo a dizer. O que seria então esta “grande beleza” do título? A cidade de Roma, a vida de Jep, uma mulher ou o futuro romance que ele pretende escrever? Pode ser tudo ou nada disso. O filme não entrega respostas fáceis. Jep é uma personagem sedutora, irônica, amarga e divertida. Uma versão mais velha de Marcello Rubini, vivido por Marcello Mastroianni em A Doce Vida. Lindamente fotografado por Luca Bigazzi, A Grande Beleza não permite meio termo. Você gosta ou detesta. Mas, jamais ficará indiferente.

A GRANDE BELEZA (La Grande Bellezza – Itália 2013). Direção: Paolo Sorrentino. Elenco: Toni Servillo, Carlo Verdone, Sabrina Ferilli, Carlo Buccirosso, Pamela Villoresi, Giorgio Pasotti, Massimo Popolizio e Serena Grandi. Duração: 142 minutos. Distribuição: Mubi.