Na filmografia do mestre italiano Federico Fellini, Julieta dos Espíritos vem logo depois de 8 ½. Muitos chegam a vê-lo como uma espécie de continuação da história de Guido. Foi seu primeiro filme colorido e mais uma das muitas homenagens à sua musa inspiradora e grande amor, a atriz Giulietta Masina. O roteiro foi escrito por Fellini, junto com Tullio Pinelli, Ennio Flaiano e Brunello Rondi. Na trama, Julieta (Masina) descobre as traições do marido e começa a ter visões que a fazem se descobrir como pessoa em uma viagem de auto-conhecimento que mistura sonho e realidade. A deslumbrante fotografia em technicolor de Gianni Di Venanzo é um espetáculo à parte. Sem esquecer, é claro, a bela música de Nino Rota, parceiro do diretor em quase todos os seus filmes. Mas, apesar das imagens e sons que nos encantam sobremaneira, o filme não seria o mesmo sem a sublime (não encontrei outra palavra que resumisse isso tão bem) presença de Giulietta Masina. Não é por acaso que seu nome está no próprio título. O cinema de Fellini, em especial a partir de 1963, assume de vez as características que transformaram seu nome em adjetivo. E Julieta dos Espíritos é uma obra tipicamente felliniana. Não é perfeito. Mas, o próprio Fellini nunca buscou a perfeição.
JULIETA DOS ESPÍRITOS (Giulietta degli Spiriti – Itália 1965). Direção: Federico Fellini. Elenco: Giulietta Masina, Sylva Koscina, Valentina Cortesa, Sandra Milo, Valeska Gert, Lou Gilbert e Milena Vukotic. Duração: 148 minutos. Distribuição: Versátil.
Pálpebras de neblina, pele d’alma
Lágrima negra tinta
Lua, lua, lua
Giuletta Masina
Ah, puta de uma outra esquina
Ah, minha vida sozinha
Ah, tela de luz puríssima
(existirmos a que será que se destina)
Ah, Giuletta Masina
Ah, vídeo de uma outra luz
Pálpebras de neblina, pele d’alma
Giuletta Masina
Aquela cara é o coraçao de Jesus
[Caetano Veloso]