A estreia na direção do montador Daniel Rezende, responsável por filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite, não poderia ser melhor. Bingo: O Rei das Manhãs, roteirizado por Luís Bolognesi, é inspirado na vida do ator Arlindo Barreto, que interpretou o palhaço Bozo, no SBT, durante os anos 1980. Para evitar eventuais processos, os nomes foram trocados. No lugar de Bozo, temos Bingo. Ao invés de Arlindo, agora temos Augusto e a Globo virou Mundial. Só a Gretchen manteve seu próprio nome. Mas isso em nada diminui o impacto do filme. Pelo contrário, lhe dá até mais liberdade. Para quem não sabe ou não viveu aquele período, Bozo/Bingo foi o maior sucesso das manhãs na televisão e sua irreverência levou o SBT a dominar o horário e ultrapassar o poderio da Globo na liderança da audiência. À frente do elenco, Vladimir Brichta no papel de sua vida, substituindo Wagner Moura, originalmente escalado, mas que, por conta da série Narcos, teve que abandonar o projeto. O elenco de apoio não decepciona também e tem na atriz Emanuelle Araújo uma Gretchen impagável. Bingo/Bozo enfrentou o maior dilema que um ator pode ter: era famosíssimo e, ao mesmo, desconhecido, já que, por contrato, não podia mostrar o rosto por trás da maquiagem do palhaço. A fama e alguns problemas pessoais o levaram ao consumo excessivo de álcool e drogas, o que repercutiu bastante em seu trabalho diário. Bingo: O Rei das Manhãs foi o filme brasileiro indicado para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2017. Não chegou a ser selecionado na lista final, o que não tira seus méritos como obra transgressora e criativa que é. O agora diretor Daniel Rezende estreou com pé direito.

BINGO: O REI DAS MANHÃS (Brasil 2017). Direção: Daniel Rezende. Elenco: Vladimir Brichta, Leandra Leal, Augusto Madeira, Ana Lúcia Torre, Tainá Müller, Emanuelle Araújo, Cauã Martins, Soren Hellerup, Pedro Bial e Domingos Montagner. Duração: 113 minutos. Distribuição: Warner.