Será que existe em nosso planeta um lugar que possa ser considerado um portal para o passado? Sim. O deserto de Atacama, que se localiza no Chile a uma altura de três mil metros do nível do mar. Lá nunca chove e o céu, sempre limpo, é ideal para estudar as estrelas e explorar outras galáxias. Lá também é perfeito para se vasculhar as areias do deserto em busca de ossos e relíquias pré-históricas. Da mesma forma, é lá também que muitas pessoas contrárias ao regime de Pinochet foram mortas e enterradas. O Atacama une tudo isso. Assim como o diretor chileno Patricio Guzmán em seu belo, corajoso e tocante documentário Nostalgia da Luz. Ao mesmo tempo em que segue o trabalho de astrônomos e arqueólogos, Guzmán acompanha mulheres que procuram um pouco de alento para a dor da perda de entes queridos para a ditadura. Fica a pergunta: Como é possível que os astrônomos chilenos olhem para as estrelas que estão a milhões de anos luz no passado e que nas escolas não seja possível ler nos livros o que se passou no Chile há 40 anos? Nostalgia da Luz não procura responder essa e outras perguntas que são lançadas. Afinal, para algumas dessas perguntas não há respostas convincentes. As imagens e os depoimentos captados pela lente de Guzmán nos encantam com sua beleza e, na mesma medida, nos provocam com seus questionamentos.

NOSTALGIA DA LUZ (Nostalgia de la Luz – Chile 2010). Direção: Patricio Guzmán. Documentário. Duração: 90 minutos. Distribuição: Bretz Filmes.