Nas aulas de História do Brasil aprendemos que a Inconfidência Mineira foi uma revolta sufocada pelo governo de Portugal, no ano de 1789, na capitania de Minas Gerais. Considerado um dos mais importantes movimentos sociais do país, teve na figura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, o seu nome maior. Em 1972, ano em que se comemorou os 150 anos da independência do Brasil, o governo militar estimulou a produção de filmes históricos. Dessa leva saiu Independência ou Morte, de Carlos Coimbra, e este Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade. Enquanto o primeiro era bem “chapa branca”, este outro se revelou muito mais ousado. O roteiro, escrito pelo próprio diretor, junto com Eduardo Escorel, usa como base poemas de Tomás Antonio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Cláudio Manuel da Costa e de Cecília Meireles, além dos diálogos, retirados inteiramente dos depoimentos oficiais registrados nos Autos da Devassa. Andrade vinha do sucesso de seu filme anterior, Macunaíma, feito três anos antes, onde esbanjou criatividade e um apurado senso de brasilidade. Não é diferente aqui. De maneira corajosa, irônica e provocadora, ele parte de um recorte bem específico, o papel dos intelectuais à frente dos acontecimentos políticos do período retratado. Os Inconfidentes, que traz José Wilker no papel de Tiradentes, nos propõe um olhar diferente, porém, difícil para quem está acostumado com soluções fáceis. O filme, de maneira inteligente, “finge” enaltecer os valores defendidos pelos militares, mas, insere um debate importante sobre a liberdade de expressão e o papel do Estado e da sociedade e de seus pensadores neste contexto.

OS INCONFIDENTES (Brasil/Itália 1972). Direção: Joaquim Pedro de Andrade. Elenco: José Wilker, Paulo César Pereio, Fernando Torres, Luiz Linhares, Carlos Kroeber, Margarida Rey, Teresa Medina, Wilson Grey e Suzana Gonçalves. Duração: 100 minutos. Distribuição: VideoFilmes.