O carioca João Jardim começou sua carreira como editor de minisséries na Rede Globo. Janela da Alma, documentário que ele escreveu e dirigiu em parceria com o fotógrafo Walter Carvalho, é sua estreia em um longa-metragem. Existe o ditado que diz serem os olhos as janelas da alma. É curioso perceber que este filme, que trata essencialmente da imagem, tem como sustentáculo a palavra. Bem, é curioso, porém, diante de ilustres depoentes do calibre do escritor José Saramago, do cineasta Wim Wenders e do músico Hermeto Paschoal, rapidamente tudo faz sentido. Seria muito difícil falar da imagem “apenas” através de imagens. As palavras, aqui, conseguem “mostrar” o que importa. Jardim e Carvalho analisam o olhar e a visão a partir de diferentes ângulos, sejam eles fisiológicos ou filosóficos. Esta reflexão traz à tona um entendimento complexo, profundo e carregado de emoção. Os dois também entrevistaram um fotógrafo e um vereador que são cegos, além da cineasta francesa Agnès Varda, da atriz alemã Hanna Schygulla e do neurologista inglês Oliver Sacks. Este belo Janela da Alma é um filme de forte caráter humanista e poético. Depois dele, Jardim realizou outros trabalhos e hoje é mais conhecido pelo premiado Lixo Extraordinário.